04 novembro 2006

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Cartas para Deus aparecem no oceano, sem respostas


Algumas das cartas são engraçadas (um homem pedindo a Deus para que ganhe na loteria, duas vezes), outras comoventes (uma adolescente pedindo perdão por cometer aborto, uma mãe solteira implorando para que o pai do bebê se case com ela). As cartas - cerca de 300 no total, enviadas a um pastor de Nova Jersey - acabaram sendo jogadas no mar, a maioria delas ainda fechadas.

O pastor morreu dois anos atrás, aos 79 anos. Como as cartas, algumas datadas de 1973, acabaram boiando no mar, permanece um mistério.

"Existem centenas de vidas aqui, muita tristeza e luta, lavadas pelo mar", disse Bill Lacovara, um vendedor de seguros que pescava com seu filho no mês passado quando encontrou uma sacola plástica florida boiando no mar. "Isso é só uma prévia do que realmente acontece. Quantas cartas como essas por todo o mundo não estão sendo abertas ou respondidas"?

Muitas das cartas eram endereçadas ao reverendo Grady Cooper, mesmo que a maioria dizia somente "altar". De acordo com os textos de muitas delas, eram destinadas ao altar da igreja e deveriam receber a bênção do pastor, da congregação ou de ambos.

Algumas eram bem escritas, em papel branco, outras com garranchos fervorosos em pedaços de papel embrulho ou cartões. Muitas estavam enrugadas por ficarem tanto tempo molhadas e depois terem sido secas por Lacovara.

Um cartão de visitas dentro de uma das cartas identificava Cooper como pastor assistente da Igreja Batista do Monte Calvário, em Jersey City. A mulher que atendeu o telefone no escritório da igreja confirmou que Cooper havia sido pastor lá, e que morreu há dois anos. O pastor atual não retornou às ligações da Associated Press.

Outros documentos encontrados na sacola, incluindo extratos bancários e cheques cancelados, também listavam o nome e endereço de Cooper em Jersey City. Uma certidão de óbito emitida em 2004 em nome de Grady Cooper mostra o mesmo endereço dos documentos bancários e algumas das cartas.

Sua esposa, Frances, cujo nome também aparecia em algumas das cartas com o mesmo endereço, morreu no ano 2000, de acordo com os registros do condado de Hudson.
Ninguém atendeu a porta na semana passada no endereço onde Cooper vivia, e um vizinho disse não se lembrar de ninguém com esse nome. Tentativas de localizar parentes de Cooper foram mal-sucedidas.

Lacovara especulou que alguém que limpava a casa de Cooper encontrou as cartas e as jogou na praia em Atlantic City, cerca de 160 km de Jersey City.

"Acho que ao invés de jogar as cartas no lixo, a pessoa atirou todas no mar para abençoar essas almas", disse. "Então fez uma viagem para Atlantic City, talvez foi a um cassino, e colocou as cartas no mar".

As cartas, envoltas em vários outros envelopes marrons menores dentro de uma grande sacola plástica, não pareciam estar no mar há muito tempo, disse Lacovara, porém cerca da metade estava muito danificada e ilegível.

Ele abriu algumas das cartas com seu filho Rocky, na praia. As primeiras eram engraçadas.
"Continuo rezando para ganhar na loteria duas vezes: primeiro, os US$50 mil", escreveu um homem. "Então, após algumas mudanças, peço para que me torne um milionário".

Um homem pedia para que Deus fizesse com que certo alguém "me deixe em paz e saia do meu caminho", enquanto outro pedia para que acalmasse uma mulher que "prometeu chamar a Receita Federal para me fiscalizar".

Uma mulher reclamava que seu marido só falava de sexo, e um anônimo dedurava alguém que traía a esposa, fornecendo datas, horários e lugares específicos.

Porém, Lacava descobriu que tais cartas bem-humoradas eram exceções.

Muitas outras foram escritas por esposas angustiadas, crianças ou viúvas, abrindo seus corações à Deus, pedindo ajuda aos parentes viciados em drogas e jogo. Um homem escreveu da prisão, dizendo ser inocente e pedindo para voltar para casa e ficar com a família. Uma mulher dizia que seu namorado fechava as portas do quarto de sua filha todas as noites, quando a mesma costumava ficar aberta antes.

Uma adolescente despejava todas suas mágoas em papel amarelo, escrevendo à lápis com letra escolar, implorando a Deus por uma segunda chance de perdão.

"Senhor, eu sei que fiz um aborto e matei um de seus anjos", escreveu. "Não há um dia que se passe que eu não reflita sobre o erro que cometi".

Uma mãe solteira dizia que seu filho nasceria em quatro semanas, e pedia para que Deus fizesse com que o pai se apaixonasse e casasse com ela, para que a criança tivesse uma família.

Lacovara disse estar triste pelo fato das cartas nunca terem sido lidas. Mas espera mudar isso logo: está colocando a coleção à venda no eBay.



Fonte: Associated Press/Último Segundo

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